sexta-feira, 22 de julho de 2011

It's time to write about myself.

Por que tenho evitado escrever sobre mim?
Posso dizer que não faço ideia. Bloqueio certos pensamentos tão bem que nem ao menos sei porque exatamente estou fazendo isso. Forma de me proteger? É bem provável que sim.
Mas me proteger do quê? De mim mesma? De alguém? De um grupo? Talvez de tudo um pouco.

Voltando no tempo, percebo que SEMPRE fui gay (eu me vestia de Tuxedo Mask quando eu era criança! Queria ser como ele...). E, desde que me entendo por gente, ser gay é errado. Tanto que pensava que um gay poderia muito bem namorar uma lésbica, já que o gay procura um homem e uma lésbica procura uma mulher. O homem da relação seria a lésbica, e a mulher, o gay. É certo uma criança pensar assim? Para mim, não mesmo. Isso era uma prova de que a sementinha da homofobia estava plantada em mim. Semente que cresceu e dificultou o meu processo de auto-aceitação.
Eu me lembro muito bem de como eu começava a gostar dos garotos, quando ainda era criança. Todas as amigas gostavam de alguém. Eu não. O que eu fazia? Escolhia o que eu mais falava e fingia gostar dele. Com o tempo, eu até que gostava um pouquinho.
Não foi diferente com minha primeira paixão. Sabe aquele garoto que todos aceitariam como alguém digno de se apaixonar? Pois é. Ficava olhando nos olhos dele, que eram verdes, em busca de um sentimento. Funcionou. E assim foi com todos os outros. (Não que a paixão não fosse verdadeira, só não era muito espontânea. rs)
Nessa época, eu era bem inocente. Beijo era nojento, essas coisas.
Em 2006, quando tinha 13 anos, comecei a ter uma vida online bem... vivida. Falava com pessoas de váários lugares, me apaixonei por garotos que moravam longe e... Comecei a desconfiar de que eu não hétero. Tinha quedas por várias garotas na internet (sem perceber) e, com o tempo, comecei a gostar de uma garota do colégio. Aí sim fiquei mais consciente da situação.
E bem assustada.
Conversei sobre o assunto com uma amiga da internet que era mais velha e mais mente-aberta. Ela disse que era normal ficar na dúvida, que ela mesma já tinha ficado com algumas garotas... Enfim, ela me acalmou.
Como eu era bem inocente, tímida (ok, ainda sou) e não fazia ideia do que estava acontecendo, deixava minha paixão pela tal garota ser apenas platônica. Só de receber a atenção dela, que era muito reservada, fazia com que, sei lá, eu ficasse feliz por uma semana. lol Era um sentimento diferente e mais forte. Eu simplesmente gostava de estar perto dela, e queria que ela gostasse de mim como amiga. Ou pelo menos era nisso que eu queria acreditar.
Posso dizer que também teve seu lado cômico. Andar na rua e sem querer olhar a bunda de uma mulher e pensar "O que você está fazendo?! A., você é bissexual, não tem como negar.". (Não, eu não faço isso. Nem ligo para bunda. MESMO. lol)
Conversei com outras amigas sobre o assunto, recebi apoio delas e tal... Elas perguntaram se eu queria fazer sexo com mulher, eu disse que não, porque achava nojento. Mas também achava nojento sexo com homem. (A inocência é linda, minha gente!) E assim fui seguindo, sem pensar muito no assunto. Eu apenas queria perder o BV o mais rápido possível. lol Bem, mas isso era por pura pressão dos amigos, porque, no fundo, eu sabia que não estava pronta. E me achava ridícula por não estar.
Em 2007, na 8ª série, fiz muitos amigos novos e fortaleci amizades "antigas" (nem tanto...). Contei para a maioria deles de que eu era bissexual e que tinha uma namorada que morava em Ribeirão Preto (comecei a me envolver com ela nas férias de verão). Não era um assunto que eu gostasse de falar com as meninas, porque a maioria delas agiam estranho ao ouvir sobre isso. Conversava com alguns garotos, mas também não muito. A maioria deles achava que era desperdício estar num relacionamento à distância. Bem, ele durou 7 meses.
No final do ano, comecei a ficar bem confusa a respeito dos meus sentimentos por uma amiga, a S. Ela e meu irmão se gostavam, o que me deixava feliz. Mas eu também gostava dela. Não tinha ciúmes da relação deles, mas ela mexia MUITO comigo. O modo como agíamos também não ajudava. Muito contato físico. Mais do que o normal entre amigas. Só faltava a gente se beijar, sinceramente. lol
Well, as coisas entre ela e meu irmão não deram certo (eles nem chegaram a ficar), e ela viajou para ver a mãe, que não morava com ela. Passou as férias inteiras fora, o que me deu muito tempo para pensar sobre o assunto. Ela era hétero, mas o jeito que ela agia comigo era muito suspeito. Ainda mais sabendo que eu era bi. E agora? Contar a verdade e perder uma amiga? Não contar e me sufocar? Contar e ganhar uma namorada? Eu não fazia ideia do que aconteceria.
Quando ela voltou de viagem, duas coisas me surpreenderam:
1 - Meus sentimentos por ela eram mais fortes do que eu imaginava.
2 - Minha mãe estava fazendo de TUDO para que eu ficasse longe dela. Como a S. deu um fora no meu irmão, minha mãe tomou as dores dele de um jeito bem estranho e lunático. Eu tinha que voltar para casa assim que minhas aulas terminassem. Nada de conversar com a S. depois da aula, mesmo que fosse por apenas 15 minutos, como costumávamos fazer. Ela também não podia ir lá em casa. Dormir então... Proibida.
Isso tudo foi bem difícil para mim. Eu já não tinha uma boa relação com a minha mãe, pois eu não era o que ela queria que eu fosse. Eu era bem fechada e pouco feminina. Quer dizer, não que eu fosse masculina, mas nunca fui o tipo de garota apaixonada por salto alto e maquiagem, digamos assim. Bem, não que minha mãe tenha dado um bom exemplo (porque ela também nunca foi fã dessas coisas), mas... Nós brigávamos MUITO. Ela simplesmente não entendia o meu jeito reservado (que ficou pior depois que eu descobri que era bi). Numa das brigas, em setembro de 2007, ela disse que eu era louca e que iria me colocar num psicólogo. Então, toda essa história com a S. só piorou tudo. Minha mãe vivia me deixando de castigo como pretexto para não ver a S. nos finais de semana, fora da escola.
Nesse meio tempo, decidi que iria contar à S. que gostava dela. Éramos muito amigas, então não achava certo mentir para ela. Principalmente fingir que gostava de vê-la com garotos.
Mas, ao mesmo tempo, era muito difícil dizer tudo assim, diretamente. Resolvi dizer que gostava de alguém e que responderia algumas perguntas sobre a tal pessoa. Assim, ela adivinharia quem era essa pessoa ou, quando a coragem fosse maior, eu contaria.
Bem, acho que não preciso dar detalhes (talvez em outro post), mas o fato é que a S. descobriu que eu gostava dela. E disse para mim que, por ela, "tudo bem" (ela também não era boa com palavras... rs). E foi assim que começamos a namorar.
Como ela era hétero (ou era assim que ela se definia), ela queria uma relação discreta. Só contamos que estávamos namorando para alguns amigos e uma amiga (e, quando contei para outra amiga sem a permissão dela, ela SURTOU!). Fazíamos de tudo para não chamar a atenção. Nada de beijos em público. No começo, andávamos de mãos dadas, mas, com o tempo, isso também acabou. Ela tinha muito medo de que a mãe dela descobrisse, mesmo morando tão longe. E, não sabemos como, mas ela quase descobriu, o que fez com que ela ficasse ainda mais psicótica. Consequentemente, eu também fiquei. Eu não tinha vergonha da nossa relação, pelo contrário, mas, depois de um tempo, eu comecei a sentir que tudo aquilo era errado. Uma coisa errada boa, mas errada.
O fato de ter sido criada para achar que ser gay era errado fazia com que eu não quisesse ser (totalmente) gay. Eu era bissexual. Também gostava de garotos. E eu não tinha uma relação lésbica com uma garota! Como deveria ser chamada essa relação, então? Relação bissexual? É, era por aí mesmo. Mesmo que eu quisesse passar o resto da minha vida ao lado da S., eu jamais admitiria que tínhamos esse "tipo" de relação. Eu queria fugir com ela, para não ter que lidar com tudo aquilo: pais, familiares, pessoas homofóbicas, classificações... Comigo mesma...
No final do ano, ela teve que voltar a morar com a mãe, em outra cidade (bem longe daqui, por sinal). Tivemos muitos problemas, "terminamos", nos vimos em Julho de 2009, "voltamos". Ficamos juntas até Julho de 2010. 2 anos e 3 meses, contando com as idas e vindas.
Namorar a S. foi uma das melhores coisas que já fiz, mas uma das piores também. Fiquei muito mais psicótica e medrosa. Eu, que já não queria ser totalmente gay, passei a querer menos ainda. Meu medo de ser rejeitada por ser gay também cresceu. E começar a gostar de outra hétero também não ajudou muito.
2010 foi o ano mais turbulento para mim. Comecei a perceber que talvez eu fosse REALMENTE lésbica. E, quanto mais eu percebia, mais eu me negava. Eu usava o fato de nunca ter ficado com um garoto como desculpa. Até que um dia fiquei com um e vi que não era daquilo que eu gostava. Depois que fiquei com o tal garoto, meus sentimentos pela garota hétero cresceram absurdamente. Era com ela que eu queria ficar! Eu sabia que nenhum garoto me faria sentir o que eu senti pela S. ou pela tal garota, por mais que eu quisesse.
Mas, mesmo sabendo de tuuudo isso, eu continuava me negando: "Beijo é beijo, não importa o sexo, A. O que diferencia os dois sexos é a 'pegada'. E, mesmo assim, isso varia de pessoa para pessoa, não? Vai ver que fui eu que não gostei da 'pegada' dele... Vai ver que, se tivesse sido com outro garoto, eu tivesse gostado..."
E foram com esses pensamentos que continuei me enganando. Eu precisava tentar ficar com outro garoto para ter certeza de que eu não gostava mesmo da coisa. Mas eu não queria. Nenhum garoto despertava meu interesse, mesmo sendo muito bonito. Eu queria gostar de algum, mas simplesmente não conseguia.
Ao mesmo tempo, em 2010, comecei a me aproximar dos meus pais. Antes de 2010, sempre tive o desejo de sair de casa. Eu me sentia sufocada. Evitava me aproximar dos meus pais por puro medo. Sempre soube o que eles pensavam a respeito dos gays, então sabia a provável reação deles. Resolvi ser corajosa e enfrentar o medo de ser rejeitada no futuro. Posso dizer que isso foi bom e ruim. Bom porque, cara, meus pais são maravilhosos. É tão bom sentir o amor deles, dar esse amor. É tão bom dar orgulho para eles. Ruim porque sei que vou decepcioná-los, querendo ou não. Quando eu não ligava para eles, eu não me importava com isso. Mas agora eu ligo. Eu os amo incondionalmente. E isso machuca muito.
Todo esse medo de decepcionar meus pais e enfrentar todos os problemas que surgem ao saírmos do armário fez com que eu continuasse me negando. Até o momento que percebi que não dava mais para negar. Eu queria mudar, mas sabia que não conseguiria.
Fiquei bem mal por não poder escolher o que eu queria ser. Até que conversei com a P. sobre o assunto. Ela me disse coisas que me ajudaram muito. Disse que não deveria ter vergonha de nada que fosse capaz de sentir. E foi nesse dia que decidi me assumir como lésbica. Eu não gostava de garotos, então para que continuar mentindo?! Fiquei aliviada por finalmente conseguir ser sincera comigo mesma. Ainda não conseguia dizer a palavra "lésbica", mas... Pelo menos não estava mentindo para mim mesma.
Comecei então a fazer "terapia de auto-aceitação". Assisti The L Word e outros seriados lés, fui a uma boate lés, repetia a palavra "lésbica" mentalmente várias e várias vezes.... Criei este blog, que era fechado, mas depois abri... Criei perfil numa rede social lés, comecei a ler com mais frequência sites lésbicos, contei para amigos que ainda não sabiam de mim... E cá estou eu, confortável comigo mesma, contando a minha história. Pode até fazer piada com a minha opção sexual que não me importo.
A única coisa que me preocupa é... Sair do armário para a família. Minha mãe nunca foi de demonstrar tanto afeto, diferente do meu pai. Meu pai, mesmo sendo tímido, sempre disse que me amava. Agora que minha mãe está mais amorosa. Diz que me ama, pede carinho antes de dormir... Eu tenho muito medo de perder tudo isso. Aos poucos, estou mostrando para eles que não sou tudo aquilo que eles esperam que eu seja, mas não sei até que ponto isso vai me ajudar quando eu me assumir. Será que eles já desconfiam? Bem, uma coisa é desconfiar, outra é ter certeza.
Dói muito pensar que posso partir o coração deles. Eu não quero decepcioná-los. Eu sei que eles não vão me odiar, mas... Eu espero que eles consigam me entender. Entender que não fui eu que escolhi isso, que até lutei contra isso. Quero que eles gostem da minha namorada tanto quanto gostariam do meu namorado. Não quero que eles sintam vergonha de mim. Não quero que pensem que tenho algum tipo de defeito que eles terão que aceitar e relevar.
Realmente não sei como eles irão reagir. Sei que a hora de contar está chegando, mas o medo ainda é muito grande. Acho que só terei coragem quando tiver uma namorada, para que ela possa me acolher nos momentos tensos.
Não sei se eles já desconfiam. Espero que sim. Assim não será um choque quando eu contar.

Acho que mostrarei este blog para eles quando me assumir. Se mostrar e vocês estiverem lendo isso, saiba que os amo muito. E sempre vou. Sinto muito se os decepcionei.

Rainbow kisses.

PS: A postagem não ficou tão boa quanto eu gostaria, mas... Espero que esteja pelo menos satisfatória.

7 comentários:

Anônimo disse...

Hello RK. How are you doing?
Puxa que texto que escreveu sobre voce... achei otimo como vc expos e foi sincera nas palavras em que citou. É duro sofrermos por causa dos "outros", ainda mais esses "outros"... que são as pessoas mais importantes de nossa vida, né?
Mas tudo tem seu tempo, sua hora, não queira "by passar" os momentos e nem se cobrar por isso, se culpar, ser gay não é um problema, simplesmente acontece.
Acredito que quando vc decidir contar, precise mostrar o quanto vc é feliz pela sua escolha, que automaticamente eles irão se acalmar e tentar entender.
Bom.. não posso te dar muitas recomendações, pois não sou assumida para minha familia tb. E sinto que meu momento de contar para eles está proximo, e não estou preparada ainda,.. e isso que sou mais velha que vc..risos viu vc não é a unica que enfrenta esses medos ...
Fica bem ok?
Abcs!
FaMa

Anônimo disse...

Nossa,esse post foi muito revelador até pra mim,que achava que sabia muito.
Parabéns pelo blog linda *-*
Você é de mais,amiga de verdade.


Beijos
E.

Anônimo disse...

Uaauuuuu :O Eu realmente gostei desse post, mesmo, falou tudo! beijo beijo.

disse...

ficou muito boa *_*

C.R.C. disse...

Well,eu ia dizer isso... Que estava sentindo falta de posts em que você falasse sobre você. Não sei se é pq eu não curto muito as outras coisa ou pq eu gosto mesmo de ir fundo naquilo que é interno e emocional, entende? Acho que você sabe que gosto de escrever sobre coisa densas e deep, né? Acho que gosto de ler tb xD

Primeiro: nada de bloquear pensamentos, minha querida ;) Seja escrevendo, conversando com algum amigo, ou ... sl xD Apenas coloque pra fora; é importante :)

Digo que é muito bom poder saber da sua história nesse sentido. Gosto de conhecer mais sobre as pessoas...
E, well, é muito legal ler você falando bem dos seus pais :) Eu sempre acreditei que nossos pais são aqueles que querem o nosso melhor, aqueles que mais nos amam. Pelo menos sempre me pareceu assim. E, se isso ajuda, acho que no dia que eles souberem que você é gay, podem até se assustar com a notícia no começo, mas ainda assim serão sempre os seus pais que te amam, aqueles que te deram vida.*-*

E, cara, a postagem ficou muito boa sim ^^

Digo que foi melhor melhor até pra mim te entender, sabe? Eu penso que é bem melhor tentar entender as pessoas individualmente do que num coletivo. Os seres humanos são assim, passam por situações bastante iguais, mas são diferentes. Obrigada por me deixar te conhecer um pouco melhor, A.

Se precisar de qualquer apoio moral ou... seilá oq (xD), pode contar comigo (acho que já falei isso, né? xD). Desculpa qualquer coisa, desculpa se às vezes não entendo muito bem o que se passa, mas saiba que, no papel de uma boa amiga, quero sempre o seu bem, okay? ^^

Beijão:*

Ana Luiza disse...

FaMa: Acredito que eu já tenha passado pela pior fase, sabe? Depois que me aceitei, estou bem mais confiante em relação à contar para os meus pais. Sinto medo sim, mas, no fundo, sei que tudo vai ficar bem um dia. ^^
Rainbow kisses! :* Obrigada pelo carinho, viu? (:

E.: Ai, menino, ainda tenho muita coisa para revelar! HUAHUA -N Mas é tão legal que você faça parte dessa história! *-* Vc me viu crescer, eu te vi crescer... Te amo muito, viu? De verdade! Você sabe que sempre pode contar comigo. (:
Rainbow kisses, meu lésbico favorito! :*

Fuck Feelings: HAUHAHUA, e eu achando que este post tinha ficado ruim... =P
Rainbow kisses!

: Obrigada! *-*

C.R.C.: Acredite, eu lidou com esse "bloqueio" muito bem, por incrível que pareça. rs Eu desabafo, só que na hora certa, entende? É meio complexo de explicar...

Realmente, acredito que meus pais sempre vão me amar, não importa o que aconteça. :')

Que bom que gostou da postagem! Eu gosto de contar minha(s) história(s), mas confesso que não sei quando alguém se interessa por elas ou não. :S Bom saber que vc gosta. (:

Relaxa, sei que você não faz por mal. Mas é muito bom saber que você está se esforçando para me entender, de verdade. Obrigada!

Rainbow kisses! :*

C.R.C. disse...

Só agora li a resposta, e... Por nada, I guess xD

Beijo:*